domingo, 29 de maio de 2011

As consequências da crise económica nacional

  A crise económica , por se ter arrastado durante mais de uma década, tem enormes consequências económicas, políticas e sociais, como sejam : o aumento do desemprego, o retorno da emigração e o regresso da insolvência.
Podemos constatar que a taxa de desemprego actual é a maior dos últimos 80 anos. Os mais afectados pela subida do desmprego são os jovens e os trabalhadores menos qualificados, embora o desemprego entre os mais velhos e os mais qualificados, também tem registado um crescimento razoável.
Como resolver a situação?
É evidente que a luta por uma maior criação de emprego, e a ambição de obter uma maior competitividade para as nossas exportações, exigem reformas laborais que o FMI nos obriga a levá - las a cabo. Se não desejarmos uma flexibilização total do mercado de trabalho, porque não tentar uma flexibilização sectorial nas indústrias expostas à grande concorrência internacional? Porque não possibilitar a flexibilidade laboral em sectores como as tecnologias de informação? Porque não tornar menos rígida a legislação laboral para os nossos sectores exportadores mais dinâmicos, de forma que estes possam vencer nos mercados internacionais e tornarem-se verdadeiros motores do crescimento da economia nacional? Por outro lado é importante reformar as regras do subsídio de desemprego, tornando-as mais incentivadoras da criação de emprego e de um mais rápido regresso ao mercado de trabalho. Por que não fazer com que os beneficiários dos subsídios de desemprego efectuem um tipo de trabalho voluntário em tempo parcial? Os desempregados ao levarem a cabo um serviço social poderiam mostrar as suas potencialidades, tornando-se mais atractivos aos olhos dos empregadores.
Resumindo: o mercado de trabalho português é bastante disfuncional, gerador de precariedade e inércia na criação de emprego.  Por isso, uma reforma das leis laborais devia ser uma das prioridades de um governo reformista. É certo que na última década, a estagnação da economia nacional e o prolongamento da crise económica deram origem a uma fraca criação de emprego, a um aumento do desemprego e, muitos de nós optaram por procurar oportunidades de emprego e melhores condições de vida no exterior.Com efeito, estamos actualmente a viver a grande vaga de emigração dos últimos 150 anos. O desemprego cresceu inexoravelmente, durante a última década, e, ocorreu quando muitos países europeus passavam por períodos de grande expansão económica, baseados no sector da construção. As oportunidades dos outros facilmente se tornam as nossas próprias oportunidades e, por isso, a partir dos finais da década de 1990, milhares de portugueses iniciaram o nosso maior êxodo desde a entrada na União Europeia. A emigração foi inevitável, não porque os portugueses estivessem ansiosos por partir para melhores paragens, mas porque a nossa economia não tinha criado empregos em número suficiente para absorver as necessidades da população activa. Mais: como a produtividade nacional tem crescido a taxas reduzidas, os salários médios dos portugueses permaneceram bastante mais baixos do que os salários médios de outros países, aumentando a tentação de emigrar. Na última década saíram de Portugal cerca de 700 mil portugueses. Em relação aos países de destino, a nossa vaga de emigração portuguesa tem-se fixado em países como a Suíça, a França, o Luxemburgo, a Espanha e o Reino Unido.Contrariamente ao que sucedeu nas décadas de 60-70, a emigração portuguesa já não é só de trabalhadores não qualificados. Com a melhoria das competências educacionais e técnicas da população portuguesa registada nas últimas décadas, os trabalhadores nacionais tornaram-se mais atraentes para os países com necessidade de mão -de-obra. Portugal é um dos países europeus em que o fenómeno da fuga do cérebros é mais acentuado, e, se a estagnação económica continuar nos próximos anos, a fuga dos cérebros será ainda maior.  Esta é de facto, uma das tendências mais preocupantes da nossa economia, pois a fuga de cérebros não só diminui a nossa limitada oferta de trabalhadores altamente qualificados, como contraria o investimento em capital humano, nas últimas décadas.
Mas nem tudo é negativo: um aumento da emigração irá conduzir a uma nova subida das remessas de emigrantes, o que tenderá a melhorar a nossa balança de pagamentos e, assim contribuirá para uma diminuição do nosso défice externo. Quanto ao regresso da insolvência, Portugal vive actualmente uma séria crise de liquidez que poderá ter profundas consequências para a economia nacional: a crise financeira internacional e a crise da dívida soberana que assola a Europa . Ambas agravaram ainda mais os nossos desequilíbrios internos e externos, agravando a nossa dívida pública e o nosso endividamento ao exterior. Por isso, nos últimos meses os bancos, as empresas e as famílias têm sentido crescentes dificuldades para assegurarem as suas necessidades de financiamento. No entanto, o risco de bancarrota é reduzido. Qual é então a diferença entre a insolvência e uma grave crise de liquidez? A insolvência acontece quando os rendimentos de um país são insuficientes para pagar as dívidas e o seviço da dívida, isto é: os juros aos credores. Por outro lado, uma crise de liquidez pode ocorrer se um país não possui momentaneamente capacidade para financiar as suas necessidades de curto e médio prazo.  Quando esta situação acontece, só restam duas alternativas: ou entramos em incumprimento, ou alguém nos ajuda a ultrapassar as nossas dificuldades de curto prazo, mesmo que, para tal, tenhamos de aceitar condições pouco favoráveis. É esta a situação que nos encontramos actualmente e é por isso que os mercados financeiros têm "apertado" tanto contra nós , através da nossa dívida soberana, nos últimos meses.

sexta-feira, 27 de maio de 2011

As causas da crise nacional

 O difícil ajustamento ao euro, a perda de competitividade das nossas exportações nos mercados internacionais, os erros na condução da política económica e uma baixa acentuada do crescimento da produtividade são quatro grandes causas da crise nacional. Ora vejamos: como pertencemos ao euro, deixamos de poder desvalorizar a nossa moeda para tornar as exportações mais baratas e as importações mais caras, diminuindo , deste modo, o nosso crónico défice externo, ou seja: como já não temos uma política cambial,, não podemos ajudar as nossas exportações a tornarem-se mais competitivas. Por isso, a única maneira de fazer com que as exportações nacionais se tornem mais atractivas nos mercados internacionais, passa pelo crescimento da produtividade e pela contenção dos custos de produção. Por conseguinte, a adopção do euro afectou a competitividade de muitas das nossas exportações, ( têxteis e calçado) e conduziu a um agravamento do défice externo. Por outro lado, a entrada no euro significou também o fim de uma política monetária independente. A partir de 1999, a política monetária passou a ser determinada não pelas necessidades da economia nacional, mas sim de acordo com a economia da Eurolândia. Neste contexto, o Banco de Portugal já não pode sentir as taxas as taxas de juro quando existem pressões inflacionistas, nem descê-las quando é preciso ajudar a estimular o crescimento económico, não podendo igualmente manipular a base monetária para influenciar a economia nacional.A adesão à moeda única permitiu uma descida dos juros, em países com histórias de inflação elevada e um aumento das facilidades de obtenção de crédito por parte dos bancos, empresas e famílias dos países da zona euro.O resultado foi um crescimento elevado, por vezes até explosivo do endividamento, em quase todos os países europeus e Portugal foi um dos países da União Europeia onde o endividamento mais cresceu. Este crescente endividamento do nosso país constitui uma das mais graves ameaças ao nosso bem-estar e à saúde da economia nacional. Quanto à perda de competitividade das exportações nacionais é atribuída ao excessivo crescimento dos nossos custos unitários do trabalho que contribuem para a acumulação de défices externos consideráveis.Ora tanto os desequilíbrios externos da economia nacional, como a nossa falta de competitividade, só serão resolvidos se aumentarmos a produtividade nacional e/ou se baixarmos os salários, de forma a tornar as nossas exportações mais atractivas nos mercados internacionais. Reduzir os custos unitários do trabalho, tornando as exportações mais competitivas, cortar os salários para reduzir os custos de produção e, assim estimular o nosso sector exportador é uma forma da economia nacional recuperar a competitividade perdida nos últimos anos. É certo que o ajustamento ao euro tem sido difícil, mas os nossos males não se pdem atribuir todos à moeda única. Muitas das dificuldades estão associadas à maior concorrência dos países da Europa de Leste e dos países asiáticos nos mercados internacionais. Por outro lado, os sucessivos erros na condução da política económica e oorçamental agravaram o mal-estar nacional e contribuíram para a estagnação económica. Também as prioridades da política económica dos últimos anos têm sido claramente erradas: o excessivo despesismo do Estado tem assim um enorme custo de oprtunidade para a economia nacional, visto que estes recursos afectos ao Estado, poderiam ser poupados ou ser utilizados de modo mais produtivo. Numa altura em que já se notaram dificuldades de competitividade por parte de alguns dos nossos sectores produtivos, numa altura em que algumas das nossas indústrias mais inovadoras e dos sectores emergentes precisavam de ser apoiados, os nossos governos optaram por ignorar os problemas estruturais da economia portuguesa e embarcaram numa trajectória despesista que em muito aumentou o peso do Estado e que nada ajudou a economia. As consequências destas políticas foram : estagnação e crise económica, o que levou a um aumento do endividamento público e privado. Ora para termos de pagar as nossas dívidas, o nosso rendimento disponível para consumir, para poupar e para investir é menor. Por isso, o elevado endividamento nacional funciona como um entrave à retoma da economia ao penalizar o consumo, o investimento e, como as taxas de juro sobem, o custo do crédito ficará mais caro, diminuindo o rendimento disponível das famílias e uma recuperação económica mais tardia. Por outro lado, um dos factores explicativos do decréscimo da produtividade deverá estar relacionado com as alterações estruturais a nível sectorial, que ocorreram na economia nacional nas últimas décadas. Tal como tem acontecido em outros países avançados, a economia portuguesa tem -se tornado uma economia de serviços cada vez menos baseada na indústria. Assim, se produzirmos cada vez menos bens industriais e cada vez mais serviços, a produtividade nacional sofre. Considerando a crescente deslocalização da produção de muitas indústrias para países asiáticos (que têm salários mais reduzidos do que os nossos), nada nos adianta apostar no sector industrial, por isso, só nos resta uma alternativa: aumentar a produtividade dos serviços.