domingo, 3 de janeiro de 2016

O CRESCIMENTO E DÍVIDA DA ZONA EURO

Depois da maior crise económica e financeira, desde o pós -guerra, a Europa parece ter caído de novo numa situação de baixo crescimento, de inflação zero, de desemprego acentuado que tarda em descer.
O FMI demonstrou recentemente que existe um problema: a zona euro está de novo a divergir em termos globais. A economia global, mesmo travada pelo crash do petróleo que tem dificultado a vida aos países emergentes vai ganhar força. A união monetária acompanha, mas fica cada vez mais para trás. Seis anos depois da economia mundial ter emergido da sua recessão, mais ampla e profunda desde o pós -guerra, o santo graal da expansão global robusta e sincronizada, continua a ser elusivo.
De facto, segundo algumas previsões, a zona euro não crescerá mais do que 1,5% este ano, e 1,6%, no próximo, chegando a 2020 sem aumentar o crescimento. A economia mundial, que em 2015 conseguiu avançar em 3,15, reforça para 3,6% no próximo ano e pode alcançar cerca de 4% em 2020.
Segundo Obstifeld, o problema com as matérias - primas representa hoje uma grande parte da história, mas não explica tudo: instabilidade política e dívida em excesso, são outros travões mencionados. No caso da dívida, a Europa pode ter de se preocupa.
Mesmo com essas complicações, o FMI, acredita que os países e.ergente, tonarão  descolar. Já as regiões ditas desenvolvidas não. Os Estados Unidos podem desacelerar de 2,8% em 2016, para apenas 2% em 2020.
No caso da zona euro, que deveria aparecer como uma união coesa, por ser económica e monetária, e, por isso, mais próspera com o euro a ser referido como um "sucesso" à escala global, os sinais de divergência interna acumulam -se. É hoje consensual que a união está incompleta e que isso prejudica o potencial de crescimento: falta a integração bancária e orçamental com todos os obstáculos que isso ainda acarreta. Assim, os excedentes dos países do Norte, continuam a ser feitos à custa de défices externos dos países do Sul. O Norte exporta e fatura nos mercados garantidos do Sul, sem risco cambial. Mas esse mesmo Norte, mais desenvolvido, onde se enquadra a Alemanha, por exemplo, continua a ser o credor que financia as economias "gastadoras" do Sul.
No entanto, estas economias, atoladas em dívida, não conseguem crescer, parecendo condenadas a uma estratégia de consolidação orçamental de décadas que trava as suas retomas. Muitos defendem que a resposta, passa  por mais reformas estruturais, que libertem os melhores recursos desses países, que os tornem mais competitivos. Mas há quem não concorde e exija mais solidariedade, por romper de vez com o que parece ser um ciclo vicioso.
Se o Sul não está bem, o Norte, acabará por sentir esses efeitos negativos.
Segundo alguns economistas, "o modelo da construção europeia, do qual hoje, o tratado orçamental é o pilar mais forte, gerou benefícios" Os benefícios dos credores mais do que superaram as perdas dos devedores. Mas parece -me que este modelo está a esgotar -se, e isso explica as dificuldades que as economias mais fortes estão a ter em reinventar a sua próxima onda de crescimento.
Se olharmos para os últimos anos da Europa, da década de 90 para cá, a grande novidade, foi a formação de uma clivagem cada vez mais profunda entre excedentários e deficitários, entre credores e devedores.
É certo que os países menos desenvolvidos têm mais trabalho de casa para fazer.
Segundo o presidente do BCE, Mário Draghi, as taxas de juro baixas, não irão, só por si, restaurar um crescimento sustentado da economia e do emprego, a não ser que seja acompanhado por reformas nacionais que permitam ultrapassar os obstáculos a esse crescimento.
Para obter todos os benefícios da política monetária é obrigatório o contributo de outras áreas de política. Dada a persistência do elevado desemprego estrutural e do baixo crescimento do produto potencial da área do euro, a retoma cíclica deve ser apoiado por políticas estruturais eficazes.Empresas e investidores devem ser apoiados por uma infra -estrutura pública adequada, e os governos devem fazer a aplicação integral e coerente do Pacto de Estabilidade e Crescimento. Por outro lado, com a inflação da zona euro em 0,1%, bem longe dos quase 2%, o BCE, decidiu reforçar o seu programa de expansão monetária (QE) em pelo menos, 360 mil milhões de euros, que acrescem aos já programados 1,14 biliões, até finais de Setembro de 2016. O QE foi estendido por mais de 6 meses, até Março de 2017.
O BCE garantiu ainda algo muito importante: irá reverter os ativos comprados no âmbito deste programa, o que significa que o efeito dos juros quase zero, prolongar -se - á por muito mais tempo.
Também Mário Draghi, explicou que o programa QE será complicado e que a compra de ativos aos bancos europeus, até aqui, era sobretudo dívida nacional; daqui para a frente, irá contemplar também a dívida local e regional.
Sem dúvida, que a inflação está mais fraca do que o esperado, pelo que o BCE injetará mais dinheiro barato nos bancos, sem contrapartida de recompra Sendo assim, o plano QE  vai, portanto engordar mais um terço (360 mil milhões de euros até aos 1,5 biliões).
Os riscos quanto às perspetivas de crescimento para a zona euro, devem -se a incertezas acrescidas relacionadas com a evolução da economia mundial, bem como, a riscos geopolíticos mais abrangentes. Tais riscos têm o potencial para passar sobre o crescimento mundial e a procura externa das exportações da área do euro, e, de modo mais generalizado sobre a confiança.
Será improvável que o "ritmo de crescimento esperado para a área do euro", seja rápido o suficiente para fazer subir a inflação.Frankfurt avançou por isso, com o QE e outras medidas de apoio.
No entanto, o crescimento económico, e, consequentemente, as perspetivas de inflação, permanecem limitados, pelo elevado nível de dívida privada e pública de muitos países, e, pelo progresso lento das reformas. Por isso a S&P, considera que " a política monetária não será capaz de compensar "os ativos" dos países.
Será que a inflação da zona euro recuperou em 2016?
Todas as previsões apontam para uma possível recuperação da inflação da zona euro em 2016 pela estabilização dos preços do petróleo e pelos efeitos da desvalorização do euro. Mas a confiança nas estimativas do BCE é maior.As suas previsões de uma aceleração da inflação têm sido revistas em baixa. Vários indicadores de mercado não antecipam que a inflação regresse a 2%, antes do final da década.
A grande incerteza que paira sobre a economia mundial, também não ajuda, seja nas economias emergentes, nos EUA, ou na evolução do preço do petróleo.
Todos estes fatores têm potencial para afetar a recuperação da inflação, da economia da zona euro, bem como a economia nacional.

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