domingo, 29 de janeiro de 2017

A CRISE NA EUROPA

Os governos da Zona Euro estão a ser incapazes de encontrar uma solução para a crise financeira. Tudo aponta para que a estratégia dominante seja a do "cada um por si". Pela primeira vez, em muitos anos, discute-se por todo o lado, se as poupanças que as pessoas têm no banco estão seguras. Quando o ambiente é este, estamos a um passo de uma corrida aos bancos, o que seria o início de uma crise económica muito grave.
 Há várias razões pelas quais a União Europeia deveria estar a agir concertadamente nesta fase:  Primeiro, num mercado de capitais altamente integrado, como é o europeu, qualquer crise nacional, ou até local, arrastará atrás de si as restantes economias; Segundo, quanto mais integrados são os mercados, maiores são os perigos associados à competição entre governos nacionais, na tentativa de fugir à crise; Terceiro, há muitas instituições financeiras que têm ramificações em vários países, exigindo a cooperação ativa, e a solidariedade de várias autoridades nacionais; Quarto, algumas instituições financeiras potencialmente em risco, são demasiado grandes para serem socorridas por um só Estado; Quinto, uma ação concertada seria muto mais eficaz na gestão das expetativas do que várias iniciativas nacionais.
Nunca antes foi claro como agora, o risco de criar uma União Económica e Monetária, sem precaver a necessidade de construir uma arquitetura sólida de gestão macroeconómica, ao nível da União Europeia.
Liberalizaram-se os mercados de capitais; aligeirou-se a regulação nacional, sem a devida compensação a nível continental; retirou-se o espaço de manobra dos governos nacionais, sem a devida compensação a nível continental; sem se criarem mecanismos de ajustamento a nível europeu; criou-se uma autoridade monetária totalmente independente, com uma vocação autista para o controlo da inflação e que sente necessidade de se mostrar aina mais ortodoxa, sempre que uma redução das taxas de juro se torna evidente.
Em plena crise económica, dada a incerteza sobre o futuro, os agentes privados, tendem a adiar as suas decisões de investimento e consumo, o que reduz a procura agregada na economia. Mas menos procura, significa também menos produção, o que implica menos emprego, menos salários, e menos lucros. Isto atrofia ainda mais  procura agregada, envolvendo as economias numa espiral recessiva, com custos económicos e sociais graves.
Ora em contextos como este, o Estado deve tomar a iniciativa, estimulando a procura agregada, através do investimento público e das despesas correntes.
 Por outras palavras, os governos europeus deveriam estar já a prevenir a espiral descendente que, se anuncia, pondo em ação um vasto programa de investimento e consumo públicos.
Acontece que algumas economias europeias foram apanhadas pela crise, com desequilíbrios macroeconómicos significativos, nomeadamente com dívidas externas avultadas. Aumentar as despesa públicas, nestas condições, tem por consequência o risco de deteriorar aina mais a dívida externa( parte dos investimentos públicos), o que implica a aquisição de bens e serviços no exterior, e prejudica a balança comercial. Para este países, a tentação do free- riding, é demasiado grande.
 A lógica que tendem a adotar, é deixarmos os outros governos aumentar os seus défices, que as novas exportações beneficiarão com isso(melhorando o défice externo), sem termos de aumentar a dívida pública.
O problema, é que, se muitos governos adotarem essa atitude, o nível da procura agregada, no conjunto da União Europeia, poderá ser insuficiente para evitar uma crise privilegiada.
Alguns dos países que poderiam dar que poderiam dar um maior contributo para retoma, sem riscos para o seu equilíbrio macroeconómico, recusam-se a desempenhar o papel de perdulários. O resultado
é que a crise se generaliza, o investimento escasseia, o consumo também, caem as exportações em todo o lado, e, com isto aumenta o desemprego. Deterioram-se ainda mais as contas públicas e prolonga-se a recessão. A solução para este tipo de problema só poderia ser um: atribuir às instituições europeias a possibilidade de endividamento e de gestão supranacional da crise, tendo em conta, as diferentes situações nacionais, e tirando partido de todos os instrumentos de politica económica que um Estado soberano deve ter.
Segundo, pode-se ler no Programa Nacional do Ano Europeu de Combate à Pobreza  "os atuais níveis de pobreza e de desigualdades são inaceitáveis e o empenho da União Europeia na solidariedade, na justiça social e no aumento da coesão, são os meios para conseguir um impacto decisivo, no sentido da erradicação da pobreza e da igualdade de oportunidades.
Quase metade dos desempregados em Portugal, não recebe subsídio de desemprego. O afastamento prolongado da atividade laboral( que atinge valores particularmente elevados no nosso país) contribui para a perda de competências e, em muitos casos, produz efeitos negativos a prazo, nos restantes elementos do agregado familiar( por exemplo, contribuindo para o abandono escolar dos filhos).
Com o desemprego a aumentar de forma preocupante, um dos grandes contributos que a comissão responsável pelo Ano Europeu de Combate à Pobreza e à Exclusão Social, poderá dar ao país, é o de alertar para a necessidade de ter este problema no topo das políticas públicas.
É certo, que o facto dos juros serem baixos, leva a um endividamento insustentável das famílias. Os produtores locais não se dão ao trabalho de procurar mercados externos, preferem viver da procura local. A evasão fiscal é enorme. Por outro lado, a sobrevalorização do euro, juntou-se a uma politica comercial europeia que abriu os mercados externos às economias emergentes, prejudicando os setores mais tradicionais( que dominam as economias das periferias), para obter como contrapartida, o acesso das exportações de bens intensivos em capital( que dominam as economias mais avançadas), aos apetecíveis mercados emergentes. Poucos referem também, o impacto que a promoção do mercado interno de serviços financeiros, e a liberalização dos fluxos de capital, tiveram sobre a facilidade de fuga ao pagamento de impostos, de alguns setores das sociedades europeias.
Os problemas de competitividade da economia portuguesa são variados: uns mais estruturais e antigos ( baixas qualificações de dirigentes e trabalhadores, fraco investimento em I&D empresarial, padrão de especialização assente em setores pouco intensivos em conhecimento e fortemente expostos à concorrência de países de baixos salários e posição periférica da economia portuguesa, face aos mercados de consumo mais dinâmicos.
 Qual o caminho de saída da crise em que se vive? Planos de consolidação orçamental faseados, que deem prioridade a curto prazo ao relançamento das economias.
Conclusão: a crise deve-se à decisão de submeter economias com estruturas muito distintas às mesmas regras e às mesmas politicas.
É de salientar duas ideias fundamentais da crise europeia:
Primeiro, a crise das dívidas soberanas está fortemente associada à acumulação da dívida externa;
Segundo, a acumulação da dívida externa, está por sua vez, fortemente associada à estrutura produtiva inicial de cada país.
Entre os países europeus houve uns que beneficiaram mais do que outros, da forma como a União Europeia se expôs à globalização de economias produtoras de bens e serviços, que são menos produzidos, e, mais procurados pelas economias emergentes (máquinas para a indústria, equipamentos de transporte etc?, beneficiaram em termos líquidos com os acordos produtores de bens mais expostos à concorrência das economias emergentes, como sejam os têxteis, o vestuário ou o calçado), não só passarem a enfrentar mais concorrência, como foram penalizados pela forte apreciação do euro face ao dólar(cujas implicações em termos de competitividade são mais relevantes, no caso de produtos menos sofisticados.
As regras da União Europeia servem os interesses de alguns, mas não servem os interesses de todos.

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