quarta-feira, 18 de abril de 2018

A DESIGUALDADE ATRASA A RECUPERAÇÃO?

Com a desigualdade a atingir os níveis mais elevados desde o período da Grande Depressão, será difícil obter uma recuperação sólida a curto prazo. Os políticos costumam falar sobre o agravamento da desigualdade e a lenta retoma, como dois fenómenos independentes, quando na realidade estão interligados. A desigualdade asfixia, restringe e trava o crescimento. Há quatro razões principais que levam a desigualdade a asfixiar a nossa recuperação:
1- A primeira, prende-se com o facto da nossa classe média estar demasiado enfraquecida, para contribuir para o consumo, que , em termos históricos, sempre impulsionou o crescimento económico. Embora o 1 por cento do topo da tabela, tivesse arrecadado 93 por cento do aumento dos rendimentos, em 2010, os agregados familiares do meio da tabela,mais propensos a gastarem os seus rendimentos disponíveis, sendo, num certo sentido, os verdadeiros criadores de emprego, obtiveram rendimentos, ajustados à inflação mais baixos do que em 1996. O crescimento obtido na década anterior à crise era insustentável, já que dependia de um crescimento de 110 por cento dos rendimentos dos 80 por cento da base da tabela. Em segundo lugar, o desaparecimento da classe média, desde a década de 70, significou que muitas destas pessoas ficaram impossibilitadas de investir no futuro, não podendo apostar na sua educação e na dos seus filhos, não podendo abrir empresas, ou desenvolver as já existentes. Em terceiro lugar, o enfraquecimento do poder de compra da classe média, está a pesar sobre as receitas fiscais, sobretudo, porque se situam no topo da pirâmide social, continuando a ser bastante astutos na fuga aos impostos e na pressão sobre Washington para obter isenções fiscais . Além disso, os lucros resultantes da especulação de Wall  Street são tributados a uma taxa muito inferior à de outros tipos de rendimento. Obter poucas receitas fiscais, significa que o governo federal não pode fazer os investimentos em infraestruturas, educação, investigação e saúde indispensáveis, para restabelecer o poder económico, a longo prazo. Em quarto lugar, a desigualdade está ligada a ciclos de prosperidade e depressão mais frequentes e rigorosos, tornando a nossa economia mais volátil e vulnerável.
A nossa desigualdade galopante aumenta a probabilidade de os filhos de pais com poucos recursos, nunca conseguirem concretizar as suas expetativas de vida. Mais de um quinto das nossas crianças vive na pobreza, e, a nossa sociedade está a desperdiçar os seus recursos mais valiosos:os jovens.
O sonho de uma vida melhor, que atraiu os imigrantes ao nosso continente está a ser destruído por um fosso de rendimento e riqueza cada vez maior.
Há muitas teorias para explicar a desigualdade. Alguns dizem que a desigualdade está além do nosso controlo, e , apontam para as forças de mercado como, a globalização, a liberalização do comércio, a redução tecnológica e a ascensão do resto do mundo. Outros afirmam que, combater a desigualdade, pioraria a situação, pois asfixiaria o nosso já de si, fraco poder económico. Estas afirmações são falsas.
As forças de mercado não existem no vazio, somos nós que as moldamos. Alguns países como o Brasil, cujo ritmo de crescimento tem sido acelerado, moldaram-nas segundo configurações que reduziram a desigualdade e, simultaneamente, criaram mais igualdade de oportunidades e um maior crescimento. Muitos países, bem mais pobres, do que os nossos, decidiram que todos os jovens deveriam ter acesso à educação, aos cuidados de saúde, de modo a poderem concretizar os seus desejos. Não há dúvida, que o mercado valoriza mais umas competências do que outras, e quem as tiver, será beneficiado. Sim, a globalização e os avanços tecnológicos, conduziram à perda de bons empregos no setor da indústria, sendo muito pouco provável que este setor seja recuperado. O emprego está a diminuir a nível mundial, simplesmente como consequência dos enormes aumentos de produtividade, e é provável que os Estados Unidos venham a obter uma fatia cada vez menor desse número decrescente de novos empregos. Se os conseguirmos "salvar", talvez seja apenas da conversão dos empregos com salários mais elevados, em empregos, mais mal remunerados, o que dificilmente se poderá considerar uma estratégia a longo prazo. A globalização, assim como a forma desequilibrada como tem sido seguida, retirou o poder negocial aos trabalhadores, as empresas podem avançar com a deslocação para outros países, sobretudo, quando a legislação fiscal é favorável aos investimentos internacionais.
Este facto, por sua vez, enfraqueceu os sindicatos, e, muito embora, as estruturas sindicais tenham sido, em algumas circunstâncias, uma fonte de intransigência, os países que responderam com maior eficácia à crise mundial, como a Alemanha e a Suécia, possuem sindicatos fortes e poderosos sistemas de proteção social. O nosso país não conseguirá recuperar de forma rápida e eficaz, sem políticas orientadas diretamente para a desigualdade.É necessária uma resposta abrangente que contemple,pelo menos, investimentos significativos no sistema educativo, um sistema fiscal mais progressivo e um imposto sobre especulação financeira.
A boa notícia é a atual redefinição do nosso modo de pensar: até há pouco tempo, costumávamos perguntar de que parcela de crescimento estaríamos dispostos a abdicar, em benefício de um pouco mais de igualdade de oportunidades; entretanto, ganhamos consciência do elevado preço a pagar pela desigualdade, percebendo que aliviar os seus sintomas, e fomentar o crescimento, são duas metas intimamente relacionadas e complementares. Temos todos de nos defender com coragem e clarividêcia para curar essa doença ameaçadora.

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